sábado, 25 de outubro de 2008
Dürkopp Diana 1902
Marca: Dürkopp
Modelo: Diana - Restaurada
Ano: 1902
Origem: Áustria
Proprietário: Marcelo Eduardo Afornali
Curitiba - Paraná - Brasil
Acessórios: Aros de madeira marca GOT, paralamas em madeira (de época), cubo dianteiro original F&S (zero km), cubo traseiro com pinhão fixo (padrão de época), coroa de passo 5/8, selim do período confeccionado em couro e "capim" (fibras vegetais), cadeado Turíngia, pedais Look, punhos em Jacarandá similares aos do ínicio do século, pneus Michelin (de época) na clássica cor Creme e farol à vela Riemann's...
História: Vinda de um colaborador alemão, esta bicicleta foi enviada via aérea ao Brasil, ficando presa na alfândega durante pouco mais de 6 meses... Como sou extremamente persistente e como todo brasileiro "não desisto nunca", tentei de todas as formas me comunicar com o Decex (Brasília) para a liberação do que havia sobrado desta bicicleta, para que enfim, pudesse dar o devido tratamento ao veículo... Infelizmente, compreendi o que é um órgão público, chegando a ligar 17 vezes num mesmo dia para tal, tentando de todas as formas liberar esta Dürkopp... De tanto "perturbar" para a liberação da bicicleta, já que não estava importando algo proibitivo, consegui liberar o veículo com a ajuda do despachante aduaneiro Tom Lara... Para retirar o veículo no aeroporto Afonso Pena (São José dos Pinhais), taxas e mais taxas me foram cobradas pela Receita Federal, sendo que o montante ultrapassou em pouco os R$2.000,00 (Dois Mil Reais)... Somente com o quadro/garfo e o guidon na mão (perderam o cubo na aduana), comecei a refazer a bicicleta... A parte de lataria foi refeita por Tadeu Chudzikiewicz, que fez milagres para salvar este conjunto... Várias partes do quadro foram refeitas, sempre com muito capricho e talento, lembrando que uma verdadeira restauração leva em conta a fidelidade ao conjunto original, o contexto da época e os acessórios corretos para tal... Pensando nisto, agreguei ao conjunto paralamas e aros de madeira, sendo que o uso destes acessórios de nada interferem na bicicleta, pois são corretos para o período desta... Já com a lataria pronta e o serviço de pintura encaminhado, as peças que deveriam receber galvanoplastia foram entregues ao profissional... Após algum tempo, as peças receberam o devido trabalho e o banho de níquel ficando como novas, trabalho este de altíssimo nível técnico e estético... Depois de receber o quadro/garfo pintados e as peças niqueladas, minha alegria foi enorme, pois a equipe havia se superado mais uma vez!!! Ainda com problemas de peças, pois restaurar uma bicicleta centenária não é simplesmente desmontar e montar, consegui com um amigo alemão o guidon completo com sistema de freio/sapata e um cubo original F&S, novo e sem uso... Com um terceiro também alemão, consegui o cubo traseiro (padrão época) em perfeitas condições de uso, bastando niquelar... Da Suécia, por colaboração de meu amigo Kjell Alqjvist, veio o selim, por sinal, novo e sem uso, ainda com o couro em perfeitas condições... Internamente este selim possui "capim" (fibras vegetais), já que muitas das técnicas adotadas nas bicicletas dos anos 30/40/50 eram desconhecidas até então... Após o veículo semi-montado, alguns parafusos originais como de freio, manete e expander do guidon foram temperados e banhados em óleo, para ficarem pretos exatamente como eram a mais de 100 anos... Seguindo o processo de montagem, já com rodas e paralamas inclusos, a caixa central foi montada com muito zêlo (todas as partes são originais, bacias, eixo), sendo que a única coisa que esta precisou foram esferas de 8mm novas... No restante, apenas limpeza... Para finalizar o conjunto, a bicicleta recebeu lanterna à vela marca Riemann's, bolsa de ferramentas alemã nova e sem uso bem como um cadeado também nas mesmas condições, sendo estes, acessórios de época que complementam o veículo e a restauração...
De fato, muito trabalho foi empregado nesta bicicleta, bem como, os custos de sua restauração passaram a ser exorbitantes, pois nada foi perdoado e tudo foi agregado da forma mais correta possível... Peças raríssimas foram compradas a "preço de ouro", pois bicicletas deste tipo e desta época, são verdadeiras preciosidades, tão raras, que poucos Museus europeus possuem tal exemplar... Até este momento, esta "Dürkopp Diana 1902" é a bicicleta mais antiga cadastrada a nível de Brasil, levando-se em conta a idade, o estado e as condições de uso...
Impressão ao Rodar: De início, estranha-se o fato de ser uma bicicleta de roda fixa, pois freio dianteiro é apenas por segurança, sendo que a força nas pernas em sentido contrário ajudam para diminuir a velocidade... Posso dizer com plena convicção que apesar da idade avançada, é simplesmente a melhor bicicleta que já pedalei minha vida, pois além de macia, possui o pedalar mais leve que já senti!!! Nada se compara ao pedalar desta bicicleta, nada mesmo... Simplesmente linda, perfeita e rara, esta testemunha da História sobre rodas, esta "Centenária Dürkopp Diana 1902"!!!
Agradecimentos: Agradeço de coração aos que participaram deste projeto, direta e indiretamente, pois trabalharam muito, muito mesmo para salvar uma parte da História sobre rodas, o único exemplar desta bicicleta no Brasil e um dos poucos que ainda restaram no Mundo...
Tadeu Chudzikiewicz: Pela paciência, zêlo e qualidade em seu inquestionável trabalho de recuperação
Kjell Alqjvist: Pelo envio de fotografias, informações e peças para a conclusão deste trabalho
Wolfgang Fickus: Ex-dono deste exemplar, que acreditou ser possível resgatar uma peça Histórica da destruição
Jeferson Nedbailuk: Grande amigo e torneiro, extremamente paciente e que fabricou várias peças de acabamento desta bicicleta
Valdeci Martinhaque: Especialista em cromo e técnicas de resgate de materias, pois salvou com maestria todas as partes niqueladas deste exemplar.
Texto publicado originalmente e gentilmente cedido por MARCELO AFORNALI do BICICLETAS ANTIGAS.
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2 comentários:
Essa postagem é em homenagem ao Jonas e mostra que realmente (como mais do que mil vezes explicado neste blogue - vide postagens antigas) as fixas não são novidade. O que é novidade é apenas o fato de cada vez mais ciclistas estarem utilizando bicicletas que foram concebidas para os velódromos nas ruas das grandes cidades...
Aliás, convido aqui o próprio Jonas a enviar um relato sobre esse pessoal todo de São Paulo e de Londres que já pedalava fixas pelas ruas quando eu era apenas um bebê (e vou de lambuja considerar que eu fui um bebê até 1991)...
Tal relato terá, obviamente, publicação garantida aqui no blogue!
Gabreil e Jonas,
Tb será publicado lá no fixasampa...
Estamos na fase da pesquisa oral, sobre as fixas em Sampa. O Sílvio tem mais detalhes.
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