sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

RODAFIXA em Hong Kong!?!?!




Então, pessoal. O Brian lá de Hong Kong abriu a sua loja que se chama: RODAFIXA!

Legal que o lance tá girando o mundo...

A cima vocês vêm nossa troca de mails antes dele abrir a loja, me "comunicando" que gostou tanto do nome que iria usar-lo pra batizar a loja!

As outras fotos são do blogue dele. Uma FIXA cargueiro e uma imagem da reportagem sobre a loja nova(vale a pena visitar):

http://hkfixed.blogspot.com/

DESAFIO INTERMODAL - O vídeo que a RPC não mostrou


O desafio intermodal foi um estudo prático e quantitativo dos diferentes meios de transporte possíveis na cidade de Curitiba.
Este estudo foi promovido pelos participantes da bicicletada de Curitiba e teve uma grande cobertura da mídia local.

www.bicicletadacuritiba.org

http://www.youtube.com/watch?v=VLoRBpBso1o

http://jornale.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2501&Itemid=52


Infelizmente, os "cabeças de motor" de Curitiba ainda insistem em utilizar seus carros privados para deslocamentos curtos, o que torna a cidade ainda melhor pra pedalar uma FIXA pelas ruas...

Bicicleta de segunda mão: R$250,00
Iluminação traseira e dianteira: R$50,00
Boné de ciclista marginal: R$10,00
VER A CARA DO MOTORISTA CURITIBANO PARADO NO TRÂNSITO POR UMA HORA: NÃO TEM PREÇO!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

London Streets...

Minha nova pistera feita pelo professor Adir Romeo. Valeu pela dica, Fernanda! Note a trava de moto prendendo quadro e rodas ao mesmo tempo.

Um camarada na Church Street com sua pistera adaptada para rua. Freios dianteiro e traseiro, cubo "flip-flop" com fixa de um lado e roda-livre do outro e bolsa de ferramentas atrás do banco.

Uma estradera de uma marcha (Não Fixa). Note a presença dos dois freios e a falta da pedaleira. Note também que a roda traseira pode ser roubada facilmente.

Mais uma estradera convertida em "uma marcha". Uma Peugeot igual as que foram fabricadas no Brasil pela Caloi. Esta conversão possui ambos freios, roda-livre e não possui pedaleiras.

Bianchi pista. A pistera "pseudo-clássica" mais popular das ruas de Londres, NYC e San Francisco. Note como esta está mal segura. Qualquer um com uma chave de boca de 15mm rouba a roda traseira (componente mais caro, fóra o quadro, neste caso) em 10 segundos.

Uma pistera fixa com freio dianteiro e guidão estilo "chifre de boi", para o trânsito da cidade. Que, caso não tenho o dono de olho na loja da frente, poderia perder as rodas fácil, fácil...

Bici de estrada convertida em fixa e com freio dianteiro.

A moda da FIXA aqui, vai mostrando seu cansaço...

Além do fato das grandes marcas (enfim) estarem abrindo os olhos para este nicho (há muito esquecido) muitas pessoas que entraram na onda e não se preocuparam em buscar informações, estão migrando para as bicicletas de uma marcha e roda-livre (que se parecem com uma fixa, mas possuem roda-livre e freios dianteiro e traseiro. Se bem que alguns patetas montam bicis de uma marcha só com freio dianteiro para se parecerem com fixas, o que é extremamente perigoso, diga-se de passagem).

Basicamente era o seguinte: alguns mensageiros profissionais usando bicis de pista por serem mais resistentes, menos chamativas, "ajudarem" o ciclista a pedalar, terem menos coisa pra quebrar, serem baratas (o ciclismo competitivo, como qualquer outro esporte, esta sempre correndo atrás das novas tecnologias, o que deixa a tecnologia pseudo-obsoleta acessível aos não profissionais) e todas as vantagens já conhecidas das fixas. O lance ficou "cool" ao ponto de virar filme nos anos 80 e explodiu com a cultura urbana nos anos 90.
Quase duas décadas depois, o "mainstream" notou que havia gente pagando o olho da cara por material de pista velho (como a pista nos tempos recentes, salvo Japão, nunca foi tão popular, o material de pista clássico acaba sendo escasso, pois foi produzido em pequenas quantidades se comparado ao material de estrada), resolveram investir na onda e lucrar.

Resultado: hoje se pode comprar em qualquer loja de ciclismo aqui da Europa uma bicicleta de pista "popular" feita pela Bianchi, Specialized, Khs, Vincini e várias outras marcas por preços modestos. Longe do preço ser um problema, mas é que o lance aqui (e relatos apontam o mesmo ocorrendo nos grandes centros dos EUA e Japão) acabou se tornando um produto "massificado", fazendo com que um monte de gente sem noção, por achar "cool", compra uma fixa, arranca os freios e sai cometendo barbaridades pelas ruas. No Japão, as fixas sem freios estão inclusive proibidas, por exemplo!

Imagine que os caras que começaram com esta estória de pedalar bicis de pista na rua, eram em sua maioria veteranos do velódromo ou mensageiros que dominavam a bicicleta de forma espetacular e que acumularam conhecimento de como controlar estas máquinas durante anos. Sem falar que boa parte convertia sozinho suas bicis de estrada dos anos 70 ou 80 em fixa, o que lhes dava, além de conhecimento técnico automático na hora de pedalar, uma bici fixa de baixo custo. Aliás, um dos aspectos principais da cultura da fixa era o prazer de ir atrás de peças, montar a própria bici e aprender com os amigos mais experientes quais as melhores maneiras de pedalar e montar uma fixa.
O fato das grandes marcas terem entrado no barco (ou no caso da Bianchi, voltado ao barco) é que muita gente comprou fixas e começou a usar-las sem muito conhecimento no assunto....

Isso fez com que muitas pessoas que "entraram na onda", viram que pedalar com fixa não é tão "cool" assim quando sem informações básicas, o que fez muitos partirem para as "single-speeds" ou "SS" ou "uma marcha", em bom português.

A cima vão algumas fotos das ruas londrinas. Note que são apresentadas tanto FIXAS como bicis de uma marcha...E lembrem-se: antes de pedalar com uma fixa, leia, aprenda e compreenda o funcionamento de sua máquina!

Para os ciclo-ativistas de plantão,ai vai um vídeo da campanha da prefeitura de Londres que incentiva o uso da bici:

http://www.youtube.com/watch?v=XXT4d5tLo54

Fixa Raul Sanvicente


Confesso que no início eu confundia bicicleta fixa com singlespeed. Esclareci-me nas páginas do saudoso Sheldon Brown e tornei single uma MTB de 21 marchas que tinha. Também troquei por um pedivela melhor e a bike emagreceu de cara 2,5 quilos! Ficou ótima.
Porém, nas pesquisas conheci o conceito da fixa. E fui atrás. Olhei tudo. Vi os filmes. Li e reli os textos disponíveis e encontrei um blog italiano cujo dono se oferecia para ajudar quem quisesse montar a sua fixa. Estava com uma viagem de turismo marcada para a Itália e aliei as duas coisas. O Aldone me indicou uma loja em Milão e lá comprei um quadro de pista, o Cinelli Vigorelli. A montagem ficou pronta há alguns dias e andei com ela quatro vezes, inclusive numa coisa que tem aqui em Porto Alegre, no Parque Marinha, que insistem em chamar de velódromo. No começo é estranho, mas depois você entende melhor a máquina e que os freios estão na força das suas pernas. Não ando em velocidade maior da que não posso faze-la parar. Ainda não faço skid, etc. e nem sei se um dia conseguirei fazer, mas andar de fixa é muito interessante...mesmo. Descer ladeira, nem pensar, por enquanto. Mas todos sabem que leva um tempo para o ciclista fixado se acostumar. E a bike ficou linda, nçao pé mesmo? A relação que estou usando é 46/18, um pouco cautelosa, ainda. O guidão ficou um pouco largo, talvez serre um pedaço nas pontas. Mas no geral a idéia é esta.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Ajustando a Corrente


Quando não utilizadas porcas de pista e nem esticadores de corrente no cubo traseiro, é normal que a roda traseira vá pra frente com o tempo, fazendo com que a corrente fique frouxa e eventualmente caia, causando ou não um acidente.

É necessário ficar atento pra isso, e com o tempo você começa a perceber com os próprios pés se a corrente esta solta ou não (com a bici parada, apoiando-se na parede, fazendo força para frente e para trás nos pedais. Se a roda esta parada e mesmo assim os pedais se movem minimamente, quer dizer que a corrente esta um pouco frouxa. Outra maneira de notar é através da “barriga” que se forma na seção inferior da corrente quando a bici esta parada). No entanto, devido à ovalidade da coroa, é necessário manter uma leve folga na corrente, para que a mesma não arrebente ao receber pressão em um ponto de maior tensão.

Resumindo: a corrente não pode estar demasiadamente esticada e nem demasiadamente frouxa!

Em uma fixa, o ideal é utilizar um quadro de pista com “ponteiras de pista”, o que permite utilizar um “esticador de corrente”. Além disso o ideal é utilizar eixos sólidos com “porcas de pista”.

Este conjunto mantém a corrente sempre esticada e dispensa a regulagem da corrente (dependendo do uso) semanalmente.

Note que uma conversão não conta com este refinamento. Em geral ao se converter uma bicicleta de estrada dos anos 70/80 (uma Caloi 10, por exemplo) em fixa, acabamos com o seguinte conjunto na roda traseira: Gancheira horizontal + Porca hexagonal padrão (ou blocagem) – esticador de corrente.

O uso de gancheiras horizontais não permite o uso de esticadores de corrente. Isso associado ao uso de porcas normais ou mesmo blocagem, faz com que a corrente se afrouxe aos poucos. Ao notar que a corrente esta frouxa siga as instruções abaixo:


1- Afrouxar as porcas do cubo traseiro de forma pareada;
2- Com a mão esquerda atrás do tubo do selim, puxe a roda traseira para trás, de modo a tencionar a corrente, mantendo a roda centrada em relação ao quadro;
3- Com a mão direita, aperte a porca da direita até esta encostar na gancheira;
4- Repita o procedimento com a porca do lado esquerdo (cuidado para não apertar demasiadamente, é importante que as porcas "travem levemente" a roda apenas (o aperto final será dado a seguir);
5- Gire a roda para frente, e utilizando a chave de boca "bata de leve e de baixo para cima" na seção inferior da corrente para ver se esta tem uma leve folga;
6- Notando que a corrente este bem ajustada, isto é, nem demasiadamente esticada e tampouco frouxa ao ponto de formar barrigas na seção inferior, de o aperto final nas porcas de forma pareada.


Obs:
- Caso a corrente ainda não esteja bem regulada, repita os passos de 2 a 6. A regulagem perfeita é baseada em "tentativa e erro", podendo ser necessário algumas tentativas até que se consiga um bom ajuste!
- Ferramentas necessárias: Chave de boca para a porca de fixação do cubo traseiro em geral na medida 15 mm ou 9/16”.
- Nos casos de cubos com blocagens não é necessário utilizar ferramenta alguma.
- Repita o processo sempre que notar a corrente demasiadamente frouxa e/ou com barriga na seção inferior.

Links:

http://sheldonbrown.com/

- Algumas imagens foram retiradas do site do falecido Sheldon Brown.

http://bicifissa.blogspot.com/

- Blogue bacana em italiano sobre FIXAS.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

QUICKSILVER - "O Prazer de Ganhar"



Sinopse

Jovem e fracassado corretor da bolsa de valores da cidade de San Francisco decide recomeçar a carreira como mensageiro em uma bicicleta de pista. Sua nova profissão apresenta-se arriscada, ainda mais quando ele se envolve num romance perigoso, que o põe em contato com o submundo do crime.

Estrelando: Kevin Bacon, Jami Gertz, Paul Rodriguez, Rudy Ramos, Laurence Fishburne.

Dirigido por: Thomas Michael Donnelly

Gênero: Drama

Tempo: 101 min.

Lançamento: 1986

EDDY MERCKX

Fixa Antônio Ramos


"E eu andava com minha bicicleta pela rua frente-casa, onde moro há 16 anos, desconfiado como nunca estive, sentindo um certo medo, conhecendo alguns "músculos novos" na perna e o joelho com alta carga de pressão." - Essa foi a primeira impressão de pedalar com uma bicicleta de roda fixa.
"Então um amigo me falou: - Quê isso? Quadro, guidão, rodas, pedal e corrente? Cabô? Respondo a ele: - Isso mesmo. E pior, me arrisco a dizer: - Precisa mais?"
Após duas semanas andando com minha bicicleta de roda-fixa posso escrever um breve relato de um iniciante sobre as primeiras experiências.
Se for tentar resumir eu diria que foi a cicatriz foi grande pois tive dificuldades de voltar a andar com uma bicicleta tradicional com roda-livre.
Alguns pensam que pelo fato de não parar de pedalar NUNCA, o cansaço vem fácil. Mentira. Isso acostuma e se transforma numa necessidade quando tenta pedalar numa bicicleta de roda livre. Também pensam que por não ter marchas, a subidas se tornam tarefas impossíveis. Mentira. A inércia está a seu favor, fica bem mais fácil, experimente e verá. Pensam que pela falta de freios (isso é opcional) as decidas se tornarão pesadelos. Verdade! Aquela história de querer achar decidas pra curtir o vento e parar de pedalar, nunca mais! Literalmente a bicicleta deve ser "segurada" com as pernas. Mas isso acostuma.
Andando numa rua reta totalmente vazia do último domingo às 7:00 da manhã vi um pássaro se preparando pra pousar, observando melhor percebe-se que pouco antes disso ele fez uma técnica com suas asas para diminuir sua velocidade. Freiar com a fixa é mesma coisa. A bicicleta parece se incorporar com sua perna, seu corpo e o controle sobre ela é impressionantemente positivo, como as asas do pássaro.
Realmente é só andando pra entender as diferenças e as inúmeras vantagens de pedalar numa bicicleta de roda fixa.
Sem mais.

Toni

Fixa Gunnar Thiessen


Depois de ser contaminado pelo vírus da bicicleta, fui definitivamente absorvido pela bactéria da roda-fixa.

Estou pedalando uma Caloi 10 (modelo 1980?) convertida em fixa há menos de uma semana. Hoje fiz o trajeto que me separa do emprego (cerca de 12 km) sem parar de pedalar, ou seja, sem botar o pé no chão uma única vez.

Os sinais vermelhos não sumiram, os cruzamentos continuam lá, os pedestres sem-noção ainda estão atravessando em qualquer lugar e sem olhar para os lados... mas a fixa nunca pára. Nunca.

Muito mais do que apenas uma maneira diferente de encaixar a corrente, a roda-fixa muda a sua visão da (e atitude em relação à) cidade, da rua, do espaço, da velocidade e do próprio significado de pedalar.

E estou só na fase de protótipo ainda...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Fixa Fernanda Volkmann


Desde sempre fui uma garota curiosa. E quando achava que algo era bom, eu precisava experimentar. Só assim eu saberia a verdade.

Com a roda-fixa não foi diferente.

A primeira vez que vi falar sobre o assunto foi neste blog. Era sempre inspirador passar por aqui. Imagine então quando eu vi uma fixa pessoalmente! Nesse dia, eu descobri na prática o que significava a palavra “encanto" (carmen, "charme" em latim).

Caro leitor, você sabia que quando a gente quer muito alguma coisa, ela acontece? Bem, enquanto não acontece, a gente pode dar uma forcinha para apressar o processo. Então, no último sábado de janeiro deste ano, após mais uma bicicletada em Curitiba, deixei minha timidez de lado e pedi para pedalar uma roda-fixa.

É engraçado, quando vivenciamos algo pela primeira vez, como os sentimentos se misturam, embaralhando nossas idéias. Havia aquela enorme vontade, mas ao mesmo tempo, uma pontinha de medo. Então, antes de ir em frente, e como a bicicleta estava sem freio, fui cautelosa. Ou nem tanto, já que não usei a pedaleira, acreditando que, caso precisasse, eu poderia sair da bicicleta mais fácil.

O melhor foi pedalar pouco e ir longe...física e mentalmente. Aquelas rodas estavam ligadas ao meu corpo, mais do que nunca.

A bicicleta era rápida! Ou será que era eu quem estava animada? De repente achei que deveria pôr a pedaleira...

Algumas semanas depois, e não por acaso, comprei minha roda-fixa. Foi a primeira vez que enfrentei trânsito com ela. As pessoas voltando de seus trabalhos, a Fernanda com um sorriso de orelha a orelha.

Fui correndo (pedalando) para a casa da mesma amiga, que naquele sábado de janeiro, também desfrutou da sensação de pedalar uma fixa. Me senti como uma criança que acabava de ganhar um brinquedo novo.

Mas, como era uma surpresa, descobri que minha amiga não estava. Então procurei uma rua tranqüila por ali mesmo e...lamentei o horário de verão ter acabado justamente um dia antes...

Ali, dando voltas e mais voltas, aprendendo o melhor jeito de segurar/pedalar/frear, não pude deixar de me lembrar do dia em que aprendi a andar de bicicleta.

Dessa vez, minha irmã não estava lá para me dar um empurrãozinho, mas com certeza, naquele momento eu estava aprendendo a andar de bicicleta novamente, e como outro adepto da fixa observou, de maneira muito mais inteligente!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Epidemia da Roda-Fixa


Curitiba esta vivendo uma epidemia de FIXAS. Logo, logo o Ministério da Saúde vai anunciar que os postos de saúde já possuem vacinas para todos os ciclistas da região!

Enfim, notando que o número de adeptos é cada vez maior, acho que seria interessante que os leitores enviassem fotos e relatos de suas máquinas para o blog e também para a galeria do Dennis.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Bicicletas, Ahimsa e a Cultura do Automóvel

Goura Nataraj das (Jorge Brand)

Uma das mais importantes qualidades de um brahmana, de um yogi, é a capacidade de reconhecer em tudo o que existe, nas mais diversas e distintas manifestações de existência, a unidade do brahman, o princípio único que subjaz em todos os fenômenos. Este olhar singular, este re-conhecimento místico, aparece na Bhagavad-gita sob o termo sama-darshinah - visão equânime. O yogi possui uma visão de igualdade. Na diversidade quase infinita do mundo material ele vê sempre o brahman, a divindade, a consciência suprema, por trás das formas sempre diferentes, sempre mutantes dos fenômenos.

Ao agir de acordo com este entendimento, o yogi, naturalmente, expressa em suas ações a virtude de ahimsa - a não-violência. Tratar com respeito e reverência tudo o que existe é uma condição essencial para o desenvolvimento da humanidade e consiste dentro da cultura do yoga uma das obrigações morais universais que devemos ter em nossas condutas. Visto que, nos dias de hoje, nos dias de Kali, as manifestações de agressividade e violência estão presentes em quase todas as esferas da vida, torna-se um desafio ainda maior buscar esta visão ampla, universal, que traz união ao invés de separar, que aproxima o ser humano da natureza ao invés de isolá-lo numa vida artificial, pautada por valores ilusórios, como o dinheiro e o poder. Isto, no entanto, deve ser objeto de profunda reflexão.

Contra a corrente de Kali-yuga vemos o yoga afirmando a não-violência como tema principal. Com o avanço da sociedade industrial, a sociedade do excesso e do consumo, os valores da individualidade, da competição e da vaidade narcísica, estão presentes em tudo e em todos. Crescemos ouvindo isto, imersos em ambientes de alienação e doutrinação, onde aprendemos que ajuda mútua, cooperação e coletividade são utopias. Acreditamos, no entanto, que é possível imaginar um mundo diferente. Não se trata aqui de afirmar ingenuamente uma irmandade dos seres humanos e pedir que a partir disto nossas ações sejam mais fraternas e solidárias. A visão do yoga é mais ousada. Tudo o que existe é parte de uma realidade única. Absolutamente tudo. Temos que ver com os mesmos olhos os animais, as plantas, as montanhas, bem como todos os tipos de seres humanos. Reconhecer em todos a manifestação da mesma realidade da qual você, sujeito consciente, brotou. Afirma Krishna na Gita que esta é a condição para que haja paz no mundo. O fundamento ético dos Vedas consiste neste importante reconhecimento - Tat Tvam Asi.

Um dos fatores que mais contribuem para a atmosfera de conflito em que vivemos, atmosfera onde predomina a ausência da visão equânime, é a assim chamada 'cultura do automóvel'. Observamos que nossas cidades estão insalubres, que o ar que respiramos está contaminado, a água impura, e o barulho constante dos motores faz parte do pano de fundo da urbe. A cultura do consumo inculcou em nossa mente o ideal do carro individual como sonho de aquisição, promessa de liberdade e segurança. A ideologia do automóvel conquistou todos os continentes. Do Rio de Janeiro a Los Angeles, observamos cidades construídas para o carro. Numa conversa recentemente, entre amigos, nomearam-no 'o protagonista do século XX'. O carro, no entanto, perde seu valor de uso quando todo mundo possui um. Torna-se símbolo de ostentação, egoísmo e vaidade. É por causa de sua tirania que as ruas estão deixando de ser espaços de convivência e tornando-se fluxo de trânsito. Para satisfazer os ímpetos de sociabilidade oferecem-nos, no lugar das praças, das calçadas, das pequenas mercearias e lojas locais, os ambientes controlados e assépticos dos shopping-centers e hiper-mercados, onde a convivência é pautada diretamente pelas regras do grande capital.

Gostaria aqui de propor à comunidade do yoga uma reflexão sobre a mobilidade baseada em ahimsa, a mobilidade não-violenta, capaz de provocar uma verdadeira revolução em nossos hábitos, e incitar transformações efetivas no curso da era de conflitos e hipocrisia em que vivemos. A tese é simples. Precisamos gastar menos. Produzir menos lixo, menos resíduos. O yoga deve afirmar e defender o de-crescimento sustentável. A humanidade já tem tudo o que precisa. É nosso dever reavaliar a lógica absurda da produção, do trabalho e do consumo. As pessoas não estão mais felizes ou realizadas neste paradigma, pois o desejo nunca se satisfaz e a ansiedade somente aumenta. Sendo assim, propomos, como método de libertação da mente das angustias inerentes à vida moderna, a inserção da bicicleta em nosso cotidiano. A bicicleta como meio de transporte capaz de desacelerar o ritmo mental desenfreado em que vivemos. Falta oxigenação no cérebro da maior parte das pessoas, principalmente daquelas que se propõem a organizar e direcionar a sociedade. Falta O2 e sobra ignorância. O motorista assume uma postura passiva. Locomove-se sem usar o sangue, os músculos e o coração. Se distancia da cidade e se afasta das pessoas. Cria para si uma extensão de seu quarto, de sua living-room, e pelas janelas do automóvel observa o mundo como se estivesse olhando mais uma vitrine ou a tela da televisão. Ao enumerarmos os malefícios da cultura do automóvel, por si só, os benefícios da mobilidade limpa falam a nossa consciência.

Uma dose saudável de radicalismo é necessária. Sem ela não tomamos a coragem de questionar nossos hábitos, nossos vasanas, nossos condicionamentos. E este é o ponto principal. O carro nos condiciona. Ficamos tensos por sua causa. Indolentes, preguiçosos, obesos, irritados, impacientes. Se juntamos isto tudo e ainda acrescentamos a opressiva ideologia do trabalho como meta da vida e a ausência de estímulos criativos na dia-a-dia, temos um quadro bastante negro para contemplarmos, e será este o quadro que nós, habitantes do início do século XXI, estaremos deixando para as futuras gerações.

Certa vez Bernard Shaw, escritor e dramaturgo inglês, perguntado sobre o porquê de sua opção vegetariana de alimentação - 'por que não comer carne?' - afirmou que a interrogação não era apropriada. O correto era inverter o questionamento. Temos infinitas razões para não matar os animais em nossa dieta e pouquíssimas para afirmar esta matança. Da mesma forma, a pergunta não é - Por que não utilizar o automóvel? - mas sim: Por que utilizar o automóvel, diariamente, em tudo o que fazemos, como se não houvessem alternativas mais inteligentes? Vejamos se nossos argumentos convencem nossa preguiça, nosso conforto inconseqüente, nossa alienação da rua e de nós mesmos.

1. Em primeiro lugar lembre-se de que o carro disciplina o corpo.

- (como se fosse uma meditação conduzida) -

Você está em seu carro. Observe o seu corpo ao dirigir, ou ao permanecer sentado no carro como passageiro. Observe as tensões nos ombros, no pescoço, na mandíbula, em toda a musculatura do seu rosto. Contemple o cenário de caos ao seu redor. Cada pessoa com seu meio de transporte irracional. Duas toneladas de aço para cada 70kg de sangue e derivados. Petróleo sendo queimado para te levar ao trabalho. Todos os dias. Todos os anos. Por causa deste petróleo, ou deste 'agro-diesel' , guerras estão sendo feitas. A terra esta sendo explorada insensatamente. Os mares e rios estão sendo contaminados. Cada motorista, como você, está isolado. Triste. Fechado em sua bolha. Não dá para ver o que esta lá fora. O vidro é escuro. Que triste não poder sentir a luz e o ar em seu rosto. Que triste sentir medo de andar pelas ruas da cidade. Que triste se alienar de seu corpo, deixar o corpo tornar-se algo estranho a você. Que triste deixar o corpo ser domesticado e disciplinado por forças que vêm de fora. Tome consciência de si. Pare e desligue o carro. Jogue fora as chaves. Vá para fora e ande, caminhe, corra . . . respire . . . respire . . . e respire.

2. O carro polui tudo - mais de 70% da poluição sonora das cidades grandes é oriunda dos veículos de transporte movidos a combustão. A emissão de gases dos automóveis é a responsável direta pela péssima qualidade do ar que respiramos diariamente. Algo está errado . . . o ato de nos transportarmos não deveria ser causa de tanto lixo e detrito. Se somos de fato racionais, uma mudança deve ocorrer na maneira em que nos relacionamos com o ambiente em que vivemos. Para completar as assustadoras estatísticas lembramos que um automóvel já consumiu, em sua fabricação, mais do que irá gastar em toda sua vida útil. Em outras palavras, o seu carro 'zero km', já tem uma dívida imensa com a Terra, desde o início.

3. A motocicleta tampouco é a solução. Ela polui até 6 vezes mais do que o automóvel.

4. Carros são armas. Diariamente pessoas morrem ou são gravemente feridas por eles.

5. Nas vias urbanas o trajeto feito de bicicleta é sempre mais eficiente. Rápido, sem custos, estimulante e faz bem à saúde.

A escolha é nossa. Contribuímos para o novo paradigma, baseado na mobilidade limpa e consciente, ou continuamos com o papel de poluidores, inconscientes e inconseqüentes. O que cada um de nos pode fazer para inserir ahimsa na mobilidade?

Faça seus deslocamentos de bicicleta.

Utilize o lado direito da via (o código de trânsito lhe concede este direito).

Coloque luzes e refletores na bicicleta.

Capacete é bom.

Use os braços e as mãos para indicar seus movimentos.

Lembre-se de que a rua é sua também, e que é dever dos carros frear para o ciclista. É necessário lembrá-los disto. A bicicleta não atrapalha o trânsito. Quem atrapalha o trânsito é quem insiste em meios de transporte irracionais; é quem ocupa individualmente o espaço de 6 ou 8 ciclistas, e ainda por cima poluindo a cidade com barulho e gases tóxicos.

Com o uso de alforjes e/ou cestas é possível fazer de tudo com a bicicleta. Ir ao trabalho, às compras, às aulas, ao lazer.

Exija: das autoridades, uma política urbana que contemple a bicicleta como meio de transporte legítimo e supremo; dos motoristas, que o respeitem, mantendo distância e velocidades seguras ao lhe ultrapassar. Todos nós podemos e devemos favorecer a bicicleta. O uso do carro deve ser racional e consciente. Se não fizermos isto a tempo, se não mudarmos o sentido no qual nossa sociedade caminha, só nos resta esperar o degelo do permafrost, as camadas de gelo permanente do ártico, e observar o comportamento das bactérias pré-históricas, que estão ali congeladas há milênios e que, ávidas por se manifestarem, entrarão na vida moderna com conseqüências desconhecidas. Os mares também irão subir. Os verões ficarão cada vez mais intensos, e o clima como um todo desequilibrado. Os sintomas de Kali-yuga, que já estão se manifestando, irão se acelerar e se consolidar.

No momento atual da humanidade o yoga é um movimento de vanguarda. Pense em tudo isto e nas maneiras que você pode colaborar no seu dia-a-dia com a construção dos novos paradigmas de mobilidade.

Menos Carro, mais bicicleta!

Menos gasolina, mais adrenalina!

Màs aire, menos humo!!

Goura é filósofo e professor de yoga, sânscrito e meditação; participa das Bicicletadas em Curitiba e é colaborador dos Cadernos de Yoga.