domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sechs Tage Rennen Berlin 2009

Bem vindos à Corrida dos Seis Dias!!!

Entrada do velódromo de Prenzlauer Berg em Berlim Oriental

Racha de Rua organizado pelos entregadores na frente do velódromo.

"Track Stand" no sprint.

As corridas de meio-fundo são tão rápidas que "é difícil ver alguma coisa"...

As BMWs de 900cc que "puxam" os ciclistas no vácuo na prova de meio-fundo.

Cicli Berlinetta, uma das lojas mais bacanas da cidade tinha seu stand no velódromo.

Pisteiras para as ruas personalizadas pela Cicli Berlinetta.

Uma Bianchi de pista....

Uma bela pisteira Ghirardi.

Mais uma pisteira dos bons tempos!

Uma Chantelli em mais uma das lojas presentes.

E mais uma...
KEIRIN!!!

Corrida por pontos. Por incrível que pareça, uma noite sem acidentes!

Corrida por pontos.

Ciclomotores se preparando para entrar em ação...

Os boxes e os alojamentos dos atletas. Notem a câmera aérea no mini-dirigível.

As BMWs se preparando para entrar em ação.

A Corrida dos Seis Dias em Berlim

Bom, fim de semana passado estive em um evento no velódromo de Berlim que há muito gostaria de ter visto!

A corrida de seis dias, como o próprio nome diz, é um evento que dura...seis dias! O evento nasceu na Grã-Bretanha e difundiu-se pelo mundo. Os eventos tiveram grande sucesso de público, principalmente no Madison Square Garden em Nova Iorque, onde a partir de 1891 o público Yankee começou a entusiasmar-se com os esportes de resistência.

No início os atletas participavam individualmente, sendo o vencedor aquele que completasse o maior número de voltas nos seis dias do evento. O formato foi aos poucos sofrendo adaptações e passou a permitir equipes (de dois competidores), onde enquanto um descansava, o outro competia. O que mudou também foi o regime de 24 horas de competição por dia, o que levou a maioria dos eventos a adotar as típicas “seis noites” (das 18:00h às 2:00h do dia seguinte) em velódromos fechados.

A vencedora geral é a equipe que consegue fazer o maior número de voltas, já nas provas em que todas as equipes completam o mesmo número de voltas, é vencedora a equipe que conquistou o maior número de pontos nas competições intermediárias (Corrida por pontos, etc.). A perseguição para fazer voltas em cima dos competidores é um espetáculo à parte e um programa típico de corrida de seis dias inclui sempre o trial, meio-fundo (onde os ciclistas pedalam no vácuo de motos que ditam o ritmo), corrida por eliminação e sprint. Na perseguição principal ou nos eventos de madison (tendo o nome de onde foi pela primeira vez definido o formato de equipes de dois atletas estão na pista ao mesmo tempo e onde um “lança” o outro em movimento).

A primeira corrida dos seis dias foi um trial individual (contra relógio) que surgiu de uma aposta feita em 1878 quando David Stanton disse ser capaz de pedalar cerca de 1,6 km em seis dias consecutivos (pedalando 18 horas por dia) no Agricultural Hall de Islington em Londres. David, pedalando sua penny-farthing, iniciou a prova as seis da manhã do dia 25 de fevereiro e venceu a aposta em 73 horas, fazendo uma média de 21,7km/h.
A primeira prova contando com vários ciclistas foi feita em 1878 no mesmo local e tinha como premiação £100,00 para o primeiro, £25,00 para o segundo, £15,00 para o terceiro e £10,00 para o quarto colocado.
A corrida começou as seis da manhã com apenas quatro dos doze inscritos, dando a liberdade de escolha para os ciclistas escolherem seus períodos de competição e descanso.
O vencedor desta prova foi Bill Cann de Sheffield, que liderou desde a largada e terminou a prova depois de 1,8km.


Popularização do evento


O evento só viria a tornar-se realmente popular a partir de 1891 quando as corridas foram organizadas no Madison Square Garden de Nova Iorque.
Em princípio, tais corridas eram competições de resistência bruta, com equipes individuais pedalando o máximo de voltas possível, inicialmente com dias de quase 24 horas de pedalada e noites de descanso, conforme a necessidade de cada competidor. Isso permitia que os competidores mais rápidos começassem mais tarde enquanto os mais lentos sacrificavam horas de sono para compensar o passo mais lento. Logo os ciclistas estavam pedalando 24 horas por dia , onde a única limitação era a resistência de cada um em vencer o próprio cansaço. Muitos utilizavam “sparrings” como no Boxe, que eram responsáveis por manter-los acordados em cima da bicicleta!
Os “sparrings” do ciclismo de seis dias eram conhecidos pelo nome francês de “soigneurs”, e é provável que muitos deles utilizavam doping para manter seus atletas pedalando além de suas limitações físicas e psicológicas. Aliás, a situação de doping em eventos ciclísticos de longa duração não é uma novidade do esporte moderno e era comum e geralmente aceita até o escândalo mostrado em 1924 pelo jornalista Albert Londres em sua reportagem Les Forçats de la Route (Os Condenados da Estrada), que expunha o uso de substâncias para manter os atletas pedalando no calvário, digo, no Tour de France. Isso é uma outra história, mas basicamente os grandes “tours” pelas estradas da Europa surgiram a partir da idéia de promover uma corrida nos moldes da corrida dos seis dias, mas ao invés de velódromos, utilizando as estradas como palco.
Os atletas eram muito bem pagos para os padrões da época e faziam qualquer negócio pela premiação oferecida. Teddy Hale ganhou US$ 5.000,00 ao vencer a competição em Nova Iorque em 1896 e conforme a descrição de um dos presentes “ele cruzou a linha de chegada como um fantasma, seu rosto branco como o rosto de um cadáver e seus olhos enterrados em sua face”. Os tombos e acidentes eram normais e os ciclistas pedalavam literalmente até a beira de seu esgotamento físico e mental.
Com o sucesso a partir de 1898, veio também a lei que limitava as corridas à “apenas” doze horas por dia, obrigando os atletas a descansarem entre as provas. Foi aí, que os organizadores tiveram a idéia de introduzir equipes de dois ciclistas (enquanto um competia o outro descansava as horas estabelecidas pela lei), onde apenas um pedalava por período, mantendo a competição ativa durante 24 horas por dia.
Com isso a velocidade e as distâncias aumentaram, o que acabou por atrair um público cada vez maior, trazendo cada vez mais investimento e retorno aos eventos. É daí que surge a modalidade olímpica “madison” onde, composta por uma única bateria, a corrida tem 50km (200 voltas). Os ciclistas competem em pares, com um descansando enquanto o outro corre. As posições são determinadas primeiro pelo número de voltas, depois pelos pontos. Os pontos são concedidos a cada 20 voltas (o primeiro ganha 5, o segundo 3, o terceiro 2 e o quarto 1). Empates em voltas e em pontos são resolvidos com base no último trecho de 20 voltas.
Nas perseguições principais do evento (e a parte mais emocionante, quando se entende o que esta acontecendo em meio a tantos ciclistas ao mesmo tempo na pista), os dois ciclistas da equipe pedalam ao mesmo tempo. Enquanto um descansa (pedalando na parte alta da pista a mais ou menos metade da velocidade de seu companheiro) o outro dá tudo de si durante duas voltas. A troca é feita com um “lançando” o outro de volta, iniciando seu próprio período de descanso.
Na época de ouro das competições no Madison Square Garden, era normal a presença da fina flor dos artistas e músicos da época. O interessante é que os times só pedalavam dando tudo de si quando as arquibancadas estavam cheias. Já, nos momentos com poucos espectadores, os atletas liam o jornal ou até escreviam cartas para as namoradas enquanto pedalavam com apenas um pé (tendo o outro no guidão para guiar a bicicleta!). Estes momentos tranqüilos, estavam sempre ameaçados quando um dos times decidia aproveitar a distração para um “ataque”.
As corridas dos seis dias foram famosas nos EUA até a Segunda Grande Guerra. A partir daí elas foram aos poucos sendo deixadas de lado pelo público, que agora podia assistir aos eventos automobilísticos e de moto velocidade.
Entre as várias tentativas de promover o evento e trazer público, os organizadores começaram a trazer cada vez mais atletas europeus, o que foi deixando a corrida cada vez mais monótona para o público que ia se acostumando às vitórias dos italianos e franceses.
O evento migrou para Europa com sucesso a partir de 1906 (quando a primeira corrida dos seis dias aconteceu em Toulouse na França) e atingiu popularidade na Alemanha, Bélgica e Inglaterra.
Nos EUA a competição começou a perder público a partir de 1933 e com eclosão da Segunda Grande Guerra, a Europa também deixou de lado a grande corrida dos Seis Dias.


A corrida dos seis dias hoje


O evento é atualmente predominantemente um fenômeno europeu, tendo Bélgica e Alemanha como os países principais. O público não apenas assiste uma “corrida de bicicletas”, mas conta com música ao vivo, restaurantes, bares, lojas e até uma discoteca!!! Assim como na corrida dos seis dias de Munique, a de Berlim conta com uma discoteca que abre após as duas da madrugada quando terminam os eventos na pista.
Eu pude apenas assistir as provas do segundo dia e confesso que fiquei muito impressionado com a organização do evento. Não se trata apenas de uma corrida, onde a maioria dos espectadores esta ali por ser aficionado por ciclismo. Não, o velódromo mais parece uma feira tipo aquelas que rolam no Parque Birigui! Várias lojas, restaurantes, enfim, todo tipo de entretenimento para um enorme público que, visivelmente, não esta ali por seu interesse pelo ciclismo e sim pela festa em si.

Programa de sexta, 23/01/2009 – Noite longa
18:00 Abertura
18:00 – Campeonato meio-fundo.
21:00 – Duração 60 minutos - Corrida por pontos.
22:00 – SHOW Banda ao vivo.
23:30 – Duração 60 minutos - Corrida por pontos.
3 x Sprint - Campeões Internacionais.
23:15 - Campeonato meio-fundo.
01:15 – Término das competições

Fora os eventos mencionados no programa, eu vi o Keirin, o meio-fundo com ciclomotores puxando e o meio-fundo com BMWs 750cc com piloto em pé puxando. Não esquecendo do “racha de rua” (alley cat) independente organizado pelos entregadores na frente do velódromo!!!
O patrocínio é forte e como vocês podem ver a industria automobilística não deixa de mostrar suas garras. Infelizmente, a pista estava coberta com os logos da E$$O, entre outros.
Em relação aos atletas, se engana quem pensa que grandes nomes do ciclismo de estrada participam! Os atletas são todos especialistas da pista e em 2000, os 24 participantes receberam juntos £333.000,00 (cerca de R$1.332.000,00), sendo que os atletas de elite ganham, fora premiação, mais de € 5.000,00 (cerca de R$ 15.000,00) para participar do evento.
Segundo Patrick Sercu, os ciclistas de estrada não competem, pois possuem outras fontes de rendimento. Quando Mario Cipollini participou, por exemplo, o pelotão teve que pegar leve para que ele pudesse liderar as vezes.
Enfim, um show que todos os amantes do ciclismo de pista deveriam ao menos uma vez na vida ver! Uma loucura!

http://www.sechstagerennen-berlin.de/

Um comentário:

Vitório disse...

Gabriel,
Excelente relato! Sempre dou uma conferida no seu blog. Parabéns!!