sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Um carro pode matar. Uma bicicleta não.




Você pode teorizar sobre o mundo. Você pode sonhar com alguma utopia barata. Você pode discutir o que tornaria o mundo melhor...

...você poderia sair pela rua e tomar um banho de realidade sobre duas rodas! – Mário Siqueira.

Ontem eu quase fui atropelado (e possivelmente morto) por um ônibus “sanfonado” na rua Almirante Tamandaré, entre a rua Reinaldino de Quadros e a Fernando Amaro, no Alto da XV em Curitiba, Paraná, Brasil. “A” capital de primeiro mundo.

Vamos aos fatos práticos: Ciclista; lado direito da rua. Eu também ajudei a construir esta rua. Habilitado a dirigir veículos da categoria A e B! Pago IPVA e IPTU. Conheço as leis de transito e até fiz curso de reciclagem.

Não importa!

Eu não posso matar ninguém com minha bicicleta. O motorista do ônibus poderia matar até o xerife.

Teoricamente os motoristas profissionais (taxistas, motorista de ônibus, vans escolares, motoboys, etc.) são “os” caras que mais entendem o trânsito, mas não se engane. Eles têm o mesmo desejo de matar que o Charles Bronson!

Dá raiva. Eu entendo os motoristas. Dá raiva saber que o financiamento da caranga ta atrasado e que a gasolina ta cada vez mais cara (e que não adiantou comprar o carro “flex” por que o álcool acabou ficando caro também...merda!). O prefeito construiu mais um binário com o seu dinheiro e mesmo assim você ainda desperdiça horas preciosas tentando chegar em casa (mas pelo menos ta na rua mostrando o seu compensador fálico pra quem quiser ver).

O ciclista urbano é um guerrilheiro “branco”. É o cara que coloca uma rosa no cano de um fuzil e que tenta (muitas vezes em vão) ficar estático em frente a um tanque de guerra, mesmo sabendo que o próximo a virar carne moída pode ser ele mesmo.

Qual a saída? Xingar, gritar, bater o pé e mostrar o dedo do meio, ou conversar com os assassinos em potencial?

Bom, voltando ao fato: ciclista, lado direito da rua chegando perto de um cruzamento com mão para direita. Ônibus sanfonado atrás, motorista pisa fundo para fazer a conversão à direita, buzina e ultrapassa o ciclista dando-lhe uma bela fechada, mesmo sabendo que iria ter de frear para fazer a conversão. Passou perto gente!

Primeira reação: manter a calma e pensar em uma ação pra tentar resolver o problema.

Notei que o ônibus estava vazio, e provavelmente indo pro Terminal Guadalupe. Lembre-se que nenhum veículo é mais rápido que uma bicicleta num centro urbano, e foi fácil seguir o maníaco. Um cruzamento depois e eu já estava na cola, sinal fechado, calmamente saquei minha câmara, foto traseira, placa, número do veículo, empresa – prova do crime. Passo para a parte da frente, para não me surpreender em ver o cobrador e o motorista comemorando um quase assassinato. Foto de ambos, que inclusive posaram pra câmara com cara de “pescador depois de fisgar um peixe grande”.

Acompanhei o ônibus até o Terminal e esperei o grande motorista sair de dentro de sua máquina de matar. Agora, despido de sua armadura de lata, o “Sr. Volante” (passada a metamorfose) voltava a ser o “Sr. Andante”, senhor simpático que aceitou um panfleto pedindo mais cuidado com a vida dos ciclistas e do planeta e me escutou durante 5 minutos.

Foi uma conversa franca e calma, onde perguntei se ele sabia que poderia ser preso por tentativa de assassinato, e falei da necessidade dos “maiores” cuidarem dos “menores”. Expliquei pra ele que ele, com sua máquina, pode matar e os ciclistas não.

A justificativa do rapaz foi super simples: “mas eu buzinei!”.

Ai o papo se estendeu um pouco mais e descobri que ele sequer sabia que é proibido buzinar para pedestres e outros veículos e que ao fazer uma conversão e se encontrar atrás de uma bicicleta, deve-se esperar a bicicleta seguir e não ultrapassa-la e em seguida “fecha-la” na conversão...Enfim, descobri que para ser motorista “profissional” não é necessário saber os códigos e leis do ofício.

Moral da história, em nosso país esta não é a única profissão que carece de treinamento e educação, e que com esse “quase acidente” senti na pele que gritar, xingar, reclamar e mostrar o dedo do meio não leva a nada, a não ser aumentar o sentimento de raiva dos motoristas. Por mais óbvio que possa parecer, a única solução é a conscientização e a educação; tentar fazer o motorista se colocar na pele do ciclista e vice-versa.

Acho que o motorista entendeu. No fim pedi pra ele conversar com os chapas dele e passar o panfleto pra frente...

Links úteis (já que a novela das oito ainda não derreteu o seu cérebro por completo, vamos ver se o “iutube” consegue):

http://youtube.com/watch?v=KcNMkjAYI58

- Você é o Senhor Volante ou o Senhor Andande?

http://youtube.com/watch?v=KcNMkjAYI58

- A culpa não é minha! Que que adianta eu pará de queimá gasolina (ou álcool – é a mesma coisa gente!) se ta todo mundo andando de carro?

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