No último fim de semana aconteceu em Hamburgo a oitava edição do racha de rua chamado “St. Paulopoly”.
Os rachas de rua (“alley cats”) com a temática do jogo Banco Imobiliário (Monopoly, na versão original em inglês) são comuns entre a comunidade de entregadores e ciclistas urbanos. O evento é nada mais, nada menos que um Banco Imobiliário jogado em escala 1:1.
A corrida de Hamburgo tem esse nome engraçado, devido ao lance acontecer apenas no bairro de St. Pauli (casa do time de futebol “FC St. Pauli”, adotado por 99% das pessoas “alternativas” da Alemanha).
Cada “casa” era na verdade um ponto de coleta (eram 13 os pontos espalhados por bares e lojas de bicicleta) e a cada ponto, se tinha de tirar a sorte nas cartas (que davam a possibilidade de ganhar dinheiro, perder dinheiro ou ir pra “cadeia”) e nos dados (que indicavam qual seria o próximo ponto de coleta). Cada um dos cerca de 250 participantes (sendo que talvez metade entregadores profissionais e a outra metade de “comutadores”, malucos, etc.) pagava 15 Euros pra participar, o que dava direito a uma camiseta e um cartão de raio do evento, além de uma sopa e entrada grátis à festa principal.
A minha aventura começou no sábado as nove da matina quando encontrei com dois mensageiros na Estação Central de Berlim, para pegarmos o trem até Hamburgo (um deles, o Klaus de Santiago do Chile, se mudou pra Berlim especialmente para trabalhar de entregador e o Arek, que trabalha também aqui em Berlim). Depois de cerca de quatro horas, chegamos a Hamburgo e pedalamos até a loja Suicycle (um dos organizadores do evento). Lá encontramos vários outros ciclistas que haviam chegado no dia anterior para outras provas e eventos e foi divertido conhecer pessoas da Bélgica, Alemanha, Holanda, Dinamarca, França, África do Sul, EUA, Escócia e de Hamburgo, é claro...Muitos deles entregadores profissionais que estavam ali apenas para o evento.
É normal que muitos deles viajem para eventos o ano todo e ao chegar se nota o espírito de camaradagem entre todos que vivem a vida sobre suas bicicletas, seja a trabalho, seja para ir ao trabalho...
Logo que chegamos na Suicycle, conhecemos o Izaak do Brooklin, NYC, que acabara de se mudar a Hamburgo e que cordialmente nos ofereceu pouso para o fim de semana (seu ap era melhor que um hotel cinco estrelas! Thanks for the help mate!). Depois de fazermos a inscrição e receber o mapa e o “manifesto” da corrida, fomos até o ap do anfitrião para deixar o peso extra das mochilas.
Quando voltamos até a loja, uma turma estava saindo pra fazer o reconhecimento dos pontos de coleta e aproveitamos para ir junto.
Depois do reconhecimento rolou uma comidinha grega e logo estávamos todos reunidos no início do percurso para um racha que duraria duas horas.
Eu diria que praticamente não existe espírito competitivo e que o que predomina é a camaradagem entre os ciclistas, que aproveitam o lance todo para fazer uma espécie de Bicicletada, fantasiando-se e “apavorando” as movimentadas ruas de sábado a noite da cidade.
Os pontos altos eram as filas nos pontos de coleta e cruzar a Reeperbahn entre carros, prostitutas, junkies e bêbados de fim de semana...
Depois de terminado o evento, uma festa nos esperava com banda ao vivo (tocando “HateMetal”...foi fóda agüentar! E djs tocando, urgh, Hip Hop e lixo dos anos 80 no melhor estilo “hipster” de plantão). A música tava ruim, mas o papo com a turma foi divertido...
Como estávamos todos cansados, fomos pra casa meio cedo. Na manhã seguinte acordamos e o café da manhã foi o filme dinamarquês “Um domingo no inferno”, sobre a corrida Paris-Roubaix de 1974 (com a participação de Moser, Merckx e cia.).
Depois do café, pedalamos por debaixo do Rio Elba pelo antigo túnel, até o estacionamento vazio de uma fábrica, onde alguns poucos bravos que resistiram ao sábado, se reuniram para uma amistosa partida de Pólo Ciclístico.
2 comentários:
Genial. É mais ou menos isso que queremos fazer aqui em Sampa, na fixolimpíada. Inspirador.
Grande abraço.
Muito Maneiro! A Roda Fixa é uma verdadeira cultura na Europa e no Brasil cresce bastante tbm.
Um abraço.
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