
(Mensagem enviada via e-mail por Goura Nataraj no dia 7 de dezembro)
Depois de descobrir os prazeres de pedalar bicicletas de estrada com roda-fixa e bicicletas de pista pelas ruas e notar que esta é uma cultura praticamente inexistente aqui no Brasil, decidi montar um blogue para os falantes de português que procuram informações sobre o assunto. Além de entusiasta deste meio de transporte, sou também tradutor técnico, DJ e músico. Obs: "Este blogue não aconselha o uso de bicicletas sem freios por pessoas que não dominem profundamente as técnicas da roda-fixa!"
Pintores de Ciclofaixa no Tribunal: Ativistas pedem a ajuda de Gummer em sua campanha de mais segurança nos deslocamentos com bicicleta
MARIE WOOLF
Quinta-feira, 17 de maio de 1994
Um grupo de ciclistas foi preso por obstruir e causar danos de forma criminosa à via enquanto pintavam ciclofaixas nas vias de Londres.
Munidos de potes de tinta, stencils, coletes refletivos e sinais de “reduza a velocidade”, os ativistas pintaram de forma discreta quilômetros de ciclofaixas pela capital antes de serem autuados. Eles receberam a intimação para comparecer hoje perante os juizes da corte de Battersea, com a possibilidade de receber multas de até 2.000 libras (cerca de R$ 5.700,00) cada - se declarados culpados.
Os ciclistas – entre eles Shane Collins, candidato do PV europeu da micro-região sul de Londres – justificam que sua ação não é ilegal e está de acordo com as políticas governamentais e locais. Eles pretendem pedir que John Gummer, o Secretário de Estado para o Meio-Ambiente, se posicione em sua defesa.
“O Governo e cada uma das subprefeituras de Londres concordaram em promover a pintura das ciclofaixas há dois ou três anos atrás, mas não fizeram nada até agora”, declarou o Sr. Collins. “Nós estamos mostrando o quão eficaz e baratas são as ciclofaixas”.
Trabalhando durante a noite em grupos de quatro ou cinco membros, os ativistas utilizaram um mapa de ciclomobilidade sugerido e publicado pelo Governo em 1991 para planejar as rotas. Enquanto um membro do grupo orientava o trânsito – fazendo com que os motoristas pensassem que eles eram funcionários da Prefeitura – os outros utilizavam tinta branca não aderente aos pneus dos carros e stencils de marcação de ciclofaixas de acordo com a lei. As ações foram feitas no norte, oeste e sul de Londres e os ativistas insistem que o trabalho feito está de acordo com as exigências da Prefeitura.
A Sub-Prefeitura de Lambeth apagou as ciclofaixas piratas, mas os ativistas dizem que elas serão re-pintadas em até uma hora depois de terminado a audiência.
“Nós estamos literalmente fazendo o trabalho da Prefeitura . Pedalar é super perigoso em Londres. Quase todo mundo que pedala já teve algum tipo de acidente”, disse Martin Ireland, que teve de ser submetido a uma plástica recentemente, após ter sido atingido por um caminhão enquanto pedalava para o trabalho.
Em 1990, o Departamento de Transporte implantou a política da “Campanha Pedala Londres” que propõe a instalação de uma rede ciclável de 1.000 milhas (cerca de 1.600 quilômetros) na capital inglesa, mas apenas 125 milhas (cerca de 200 quilômetros) foram pintadas, principalmente em Wandsworth, Fulham e Hammersmith.
As Subprefeituras locais pressionadas justificam que sem a ajuda do governo, elas são incapazes de fornecer a infraestrura que custa cerca de 40 milhões de libras (cerca de 115 milhões de reais).
Em julho, os representantes de 33 autoridades locais de Londres apresentarão um pedido de fundos coordenada ao Departamento de Transporte para construir uma rede ciclável em Londres. No entanto, o Departamento de Transporte deu a entender que não disponibilizaria verbas extras para tal.
“Embora estejamos a favor das ciclofaixas, essa posição é fortalecida”, declarou um porta-voz.
“Nós não saímos mudando políticas no meio do ano”.
Em 1990 um grupo de ativistas pró-bicicleta em Fulham “emprestou” o material de pintura viária da Subprefeitura durante a noite e pintou uma ciclofaixa. Ao devolver o material pela manhã, eles conseguiram convencer um funcionário da Prefeitura a emitir uma ordem falsa de pintar a ciclofaixa no sistema de informática da autoridade local.
Ao contrário de muitas das ações do grupo, a ciclofaixa continua no local.
Tradução: Gabriel Nogueira
* Clique aqui para visualizar a notícia original.
Enfim, seguindo a máxima do "cada um com seus problemas", é lógico que a publicação dessa notícia requentada não é uma forma de comparar duas realidades diferentes, mas sim duas realidades bem próximas (dadas as proporções). Sim, a Londres de 15 anos atrás (e ainda hoje) é carrocrata, assim como CWB, sendo que a diferença é que o Prefeito de lá teve um papel fundamental na implementação de um plano pró-ciclomobilidade e o Prefeito de cá é afixionado por corrida de automóveis.
Essa diferença de mentalidade entre prefeitos, brindou Londres com um aumento de 20% em deslocamentos por bicicleta em 1 ano (2004-2005) e com um aumento visível e considerável da infra-estrutura ciclável na cidade.
E quanto a CWB?
Bom, além das páginas e mais páginas de propaganda mentirosa no site da Prefeitura Municipal, fomos brindados com mais uma ciclovia inútil junto da famigerada "Linha Verde" e com uma multa bizarra por "crime-ambiental" contra um grupo de ciclistas que decidiram fazer o trabalho que a Prefeitura deveria fazer por lei.
Anistia aos três ciclistas multados
(Jorge Brand, Fernando Rosenbaum e Juan Parada), simultaneamente à revisão do ato administrativo que resultou na multa (por ocasião do Dia Mundial Sem Carro de 2007).
Sua Excia. poderia sair do impasse legal criado pela PGM (que insiste em enquadrar os ciclistas como pichadores), tomando para si a revisão do ato administrativo que resultou na multa.
Ora, a instância superior da administração pública tem poderes para rever os atos das instâncias inferiores, como se lê nos melhores tratadistas (Helly Lopes Meirelles, entre outros).
A Guarda Municipal entendeu como delito comum, de simples pichação, vale dizer, de vandalismo) a manifestação essencialmente política dos ciclistas que pintaram uma ciclofaixa na primeira quadra da Rua Augusto Stresser, (imediatamente antes da Praça Vivian Caropreso Braga) durante as manifestações do Dia Mundial Sem Carro de 2007.
Sabe-se porém que a pintura da ciclofaixa foi um gesto destinado a chamar a atenção para a necessidade de cumprimento dos dispositivos do Código Nacional de Trânsito que asseguram à bicicleta a condição de veículo de transporte no quadro urbano.
Ao anistiar os ciclistas, Sua Excia. passaria a reconhecer o teor político daquele gesto (os manifestantes apenas exigiram o cumprimento da lei). Sua decisão de anistiá-los – tomada no mais alto nível da administração municipal – sobrepor-se-ia à visão estreita e desinformada dos níveis inferiores (que viram na manifestação apenas a forma exterior, enquadrando-a como delito comum).
Considerar ainda que, ao recebê-los em seu gabinete, alguns dias depois da manifestação (conforme as fotos em anexo), Sua Excia. sinalizou claramente para o movimento e a opinião pública sua disposição favorável, pelo menos em tese, às metas da Bicicletada. A anistia aos ciclistas multados (três deles, em meio a cinqüenta participantes) apenas viria como uma conseqüência natural dessa disposição.
Já o indeferimento dos recursos (duas vezes impetrados, sem sucesso, junto à PGM) e bem assim a cominação das multas passam a mensagem contraditória de que, em contraste com aquele gesto de generoso acolhimento, Sua Excia. consideraria a manifestação como delito comum, subscrevendo a visão estreita da Guarda Municipal e a visão estritamente formal-legalista (kelseniana) que fundamenta os indeferimentos.
Institucionalização da Primeira Ciclofaixa de Curitiba, na Rua Augusto Stresser
Sua Excia. tem a oportunidade única de sinalizar à opinião pública sua vontade de implementar alternativas concretas, efetivas, de transporte, em meio à grande crise dos meios da circulação urbana, mediante a institucionalização da primeira ciclofaixa de Curitiba, na extensão simbólica de apenas uma quadra ou quarteirão, no trecho da Rua Augusto Stresser imediatamente anterior à Praça Vivian Caropreso Braga, local da manifestação dos ciclistas no Dia Mundial Sem Carros de 2007.
A medida, de grande impacto psico-social, envolveria os órgãos municipais de engenharia e gestão de trânsito (Diretran, Guarda Municipal), em caráter permanente, com fundamento nos dispositivos do Código Nacional de Trânsito que asseguram à bicicleta um legítimo lugar no sistema de circulação da cidade.
A Ciclofaixa da Stresser serviria como anunciação de outras medidas possíveis, de implementação a baixo custo, e imediatamente viáveis, a exemplo da chamada Zona 30, em estudos no âmbito do planejamento municipal, e das ciclofaixas numa das margens de estacionamento das canaletas do Sistema Expresso.
Medidas adicionais imediatas poderiam incluir, por exemplo, o treinamento dos motoristas de ônibus pela URBS, no sentido de guardarem respeito ao ciclista e aos dispositivos do CNT (distância mínima em relação à bicicleta que trafega à margem da faixa de rolamento, entre outros).
Todas as medidas sugeridas reafirmam a esfera política superior de decisão, ultrapassando o enfoque técnico-burocrático, acostumado a ver apenas obstáculos ali onde o administrador-estadista enxerga oportunidades para o desenho do futuro.
Contato: Jaques Brand
Tel 3323-5877
Este edital irá contemplar o melhor projeto para uma possível implantação de um plano de ciclomobilidade no eixo político da capital do Paraná, que vai do Palácio Iguaçu à Praça Tiradentes.
O projeto mais criativo, bem formulado e tecnicamente viável será enviado ao IPPUC, DIRETRAN e à Prefeitura de Curitiba para devida apreciação e desejada aplicação.
Receberá também uma bicicleta Caloi Terra doada pelo Cicles Jaime.
O crime da bicicleta
Há dois anos, Jorge Brand, Fernando Rozenbaum e Juan Parada – ativistas do coletivo de arte e urbanismo Interlux – foram apreendidos e acusados de delito ambiental. Crime: terem pintado uma faixa para bicicletas num trecho de asfalto da Augusto Stresser, Alto da XV, durante comemoração do Dia Mundial sem Carro. O trio recorreu da sentença duas vezes, sem sucesso. Veja a defesa do filósofo e iogue Jorge Brand, 28 anos.
O que você diria à turma da prefeitura?
Que não entende o significado do nosso gesto. O procurador Ivan Bonilha diz que se reconsiderar, vai abrir precedentes para outros processos de pichação. Mas não pichamos a rua. A ação foi feita à luz do dia, como um gesto de desobediência civil.
Em que pé está a briga?
Para começar, havia 50 pessoas na Stresser em 2007, mas só nós três fomos levados à delegacia. Por que não prenderam todo mundo? É arbitrário. Nossa multa está na Dívida Ativa e soma mais de R$ 1 mil para cada um. Podemos pagar, mas invalidaria nossa luta.
Os ciclistas declararam guerra…
Não, mas estamos insatisfeitos. Há muito discurso em torno do Plano Cicloviário, mas na prática o ciclista não está incluído nos projetos urbanos. Falta diálogo. O prefeito diz que gosta de bicicletas, mas acho que não.
Publicado originalmente no Entrelinhas, de Cláudio Feldens (colaborou José Carlos Fernandes).
A gente pergunta sobre os precedentes, as “pichações” feitas nas ruas durante as copas do mundo e em outros eventos populares. E pergunta também sobre as “pichações” feitas pelos condomínios para demarcar a entrada de seus prédios. E sobre as pinturas publicitárias em faixas de segurança para pedestres, que não deveriam ser admitidas nem mesmo mediante o pagamento de taxas.
No caso da ciclofaixa, nunca ocorreu depredação do patrimônio público, nem foram colocadas vidas em risco (ao contrário, reduziu os riscos para os usuários de bicicletas e também para os motoristas respeitadores da sinalização de trânsito!). Pichar é depredar. Fazer ciclofaixa é tentar ordenar em favor do desprotegido o que está desordenado. Por isso, pode-se dizer que a multa tem cunho meramente político (quase que partidário), e tem por objetivo apenas amarrar e desestimular os movimentos sociais em favor da bicicleta.
Querem interromper as pressões por melhores condições para a vida urbana, por meio de um mecanismo legal, mas fazendo dele um uso completamente distorcido, quando na esfera penal é preciso interpretação estrita da lei. Querem se garantir tentando manchar o currículo desses jovens corajosos, só porque ousam denunciar que o rei está nu.
Queremos motoristas nas ruas, e não pilotos.
Atualização, em 20/10/2009.
Dia 29 haverá manifestação nas proximidades da Procuradoria municipal e Prefeitura. Ajude a protestar contra essa iniquidade.
Crime Ambiental ? Nem a pau!
A Gazeta também noticiou o caso...
Talvez fosse uma idéia fazer uma vaquinha entre os 50 que estavam lá na delegacia do meio-ambiente e pagar a multa, com o acordo de que o dinheiro seja utilizado para pintar mais ciclofaixas pela cidade. Ou quem sabe trocar a multa por trabalho voluntário onde nós nos oferecemos para trabalhar na construção de estrutura ciclável pela prefeitura...
Recorro a este blog porque, se você não o lê, alguém que você conhece deve ler e lhe transmitirá esta epístola. Também está no meu blog (http://blaguedoblog.blogspot.com), mas este só eu leio.
Pois é, companheiro. Fui eu que hoje (sexta), por negligência, por confiar na buzina e, instintivamente, pensar que seu instinto supera a razão, acabei por derrubá-lo de sua briosa bicicleta quando eu buscava entrar na garagem do prédio onde moro.
Escrevo esta para, sonoramente e em público, pedir-lhe desculpas.
Fui negligente, sim, e principalmente arrogante por achar – e não é o que realmente penso – que uma buzinada seria o bastante para que você diminuísse a velocidade a me deixasse passar.
Deixar por quê? Você trafegava à direita da pista, bem junto à guia, respeitoso com as regras do trânsito. Deve ter acreditado que eu, civilizadamente, frearia meu possante 1.0 e esperaria você passar para, em seguida, eu entrar na garagem.
Paguei o preço do que me livro todos os dias nessa Itupava que agora virou via rápida. Quando me aproximo de casa, dou sinal com a seta, coloco o braço pra fora e faço aqueles gestos de lei que ninguém mais usa e, ainda assim, ouço freadas e, vez ou outra, um filhodaputa pela orelha esquerda. Hoje tinha um carro colado atrás do meu e achei que dava tempo de te ultrapassar e encostar na entrada do prédio.
Errei, e errei feio, e é por isso que peço desculpas.
Isso não me absolve, por certo. Cometi uma infração de trânsito por agir com negligência e não respeitar o ciclista.
Mas, como aconteceu de eu subir para ligar para o corretor de seguros e você partir sob aplausos da multidão, resta-me falar com você por meio do glorioso Blog do Zé Beto.
Você e sua baique saíram ilesos da minha barbeiragem. Eu, logo que constatada minha culpa (tanto que subi e liguei para o corretor de seguros), faria questão de te indenizar, se dano houvesse. Como tudo não passou de um baita aborrecimento, principalmente para você, obviamente, restar-me-ia a vergonha do erro cometido em público e um contrito pedido de desculpas.
É o que faço agora, no meio da praça, para purgar o mal que lhe causei.
Mas entenda algumas coisas:
1 – Eu não estava a 190 km por hora, embriagado, apostando racha com um bacana ainda não-identificado;
2 – Aconteceu um lamentável, mas superável acidente de trânsito, felizmente sem ferimentos físicos e sem danos materiais;
3 – Você não precisava tentar me dar lição de moral e de cidadania em público, como se estivesse diante de um débil mental;
4 – Você não precisava bradar que queria ver o mesmo acontecendo com meu filho;
5 – Você, enfim, não precisava dar aquele show, bancando a vítima de um motorista insano, um cretino que não respeita o ciclista;
6 – Você, ciclista desconhecido, comportou-se como um motoboy, e até agora, preocupado, espero manifestação de ciclistas diante do meu prédio, chamando-me de assassino, bradando “nóis qué justiça” e coisa e tal;
7 – Você não é dono da verdade e bicicleta é veículo, portanto sujeita a acidentes – por certo, sempre lamentáveis.
De minha parte, quero lhe assegurar que, de agora em diante, redobrarei meus cuidados e frearei meu possante para deixar o ciclista passar (quando voltar a dirigir). É assim, na verdade, que me comporto no dia-a-dia- do trânsito.
Hoje, infelizmente, errei, pelo que me penitencio.
Ao final e afinal, peço-lhe desculpas mais uma vez, dou-lhe os parabéns pelo show e prometo ser um bom menino daqui por diante.
Se você for, por um acaso do destino, o ciclista filho do Jacques Brã, campeão mundial de ciclismo de rua e defensor das baiques, pergunte-lhe sobre mim e ele lhe dirá que eu, apesar de tudo, sou um bom sujeito.
Traumatizado pelo acidente e pela bronca, fui trabalhar a pé esta tarde e pretendo voltar a ser pedestre daqui por diante. Melhor assim.
E ai de você, ciclista desconhecido, se subir na calçada onde eu caminho ou, se eu estiver deitado na rua, me mandar sair da frente.
Aí serei eu o certo e você não escapará dos meus sopapos.
Boa sorte a você e aos demais ciclistas curitibanos.
Assinado: Jorjão, agora e de novo o pedestre-dono-de-todas-as-verdades, um ser superior aos motoristas, aos motociclistas e até aos ciclistas.
O Vereador Professor Galdino é bem conhecido em Curitiba por caminhar todos os dias pelo centro da cidade, conversando com a população. Na manhã desta sexta-feira, o vereador saiu às ruas como de hábito, mas dessa vez foi de maneira diferente. Professor Galdino acompanhou membros do Movimento Bicicletada de Curitiba. Com o objetivo de ver de perto as dificuldades enfrentadas diariamente pelos ciclistas urbanos, o vereador partiu com o grupo de bicicleta, do bairro Alto da Glória em direção à Linha Verde.
No percurso, vários problemas foram apontados. Trechos cicloviários em péssimas condições são alguns dos exemplos. Esse é o caso da ciclovia paralela à Rua João Negrão, da Silva Jardim até a Marechal Floriano Peixoto, no bairro Prado Velho. Em diversas áreas, a via está com enormes rachaduras e elevações. Um perigo para os ciclistas, e também para os pedestres que utilizam o caminho.
Na Linha Verde, o problema não é a condição das ciclovias, mas os inúmeros cortes e desvios no caminho. O ciclista que segue sistematicamente a via destinada a quem pedala é obrigado a fazer diversas “travessias em S”. Do canteiro central devem ir para as calçadas laterais, onde atravessam mais um cruzamento antes de retornarem à ciclovia central, cruzando mais uma vez a avenida principal. Nos trechos não há sinalização adequada, nem sincronização de semáforos para que toda a passagem seja feita. Não é à toa que o vereador presenciou vários ciclistas por lá, utilizando a via destinada aos automóveis e fazendo pouco caso da ciclovia. “Estou com pressa”, justificou um deles.
Luis Patricio, que também acompanhou o vereador e é membro do Grupo Transporte Humano, diz que algumas adaptações simples poderiam colaborar para que mais pessoas usassem a bicicleta. “A instalação de paraciclos e bicicletários em áreas centrais e próximo aos terminais de ônibus já seriam incentivo”, afirma.
Outra medida simples, mas essencial para a segurança de quem pedala é a adequação da sinalização nos locais de passagem de ciclistas – a inclusão de faixas de travessia onde há cortes de ciclovia e a instalação de semáforos para ciclistas e pedestres em cruzamentos perigosos. A Avenida Mariano Torres é um dos principais exemplos de perigo para quem caminha e pedala, por causa da falta de sinalização específica. O cruzamento com a Visconde de Guarapuava é um dos trechos onde ocorrem mais acidentes. Ali, quem segue pela ciclovia tem que se arriscar entre carros e ônibus, que para piorar, muitas vezes, ainda param sobre a faixa de pedestres.
Mais respeito nas ruas
Outro grande vilão que impede mais pessoas de saírem às ruas de bicicleta é a falta de respeito pelos ciclistas . “A bicicleta não é levada a sério nesta cidade. Falta consciência e educação de um modo geral, não só por parte dos motoristas”, afirma Patricio. Ele defende “uma campanha continuada de conscientização, que venha amparada pelo tripé: educação, fiscalização e punição”.
O companheiro de Bicicletadas, Goura Nataraj, lembra que o Código de Trânsito prevê a bicicleta como um meio de transporte que deve ser respeitado, mas na prática isso não acontece. Goura ressalta que “é dever do poder público orquestrar as mudanças necessárias para que a bicicleta seja incorporada e ganhe visibilidade no dia-a-dia da cidade”.
Caos Urbano
De acordo com dados do Detran/PR, de maio deste ano, Curitiba tem hoje uma frota de mais de um milhão e cem mil veículos registrados. Entre eles, são mais de 800 mil carros. Os números mostram que há na cidade uma média de um carro para cada dois habitantes.
Na contramão desta tendência, os ciclistas buscam mais espaço nas ruas e reforçam o uso da bicicleta como uma alternativa para os problemas de trânsito e poluição na capital.“A bicicleta é uma alternativa real, porque além de ocupar menos espaço, não polui, faz bem à saúde é acessível a todos”, diz Goura. “A economia tem que crescer, mas não a custas de uma vida urbana cada vez mais caótica e degradada”, ressalta.
Projetos
Professor Galdino estuda requerimentos e projetos a serem apresentados à prefeitura e à Câmara de Curitiba. O objetivo é incentivar o uso da bicicleta e dar mais atenção aos ciclistas. O vereador, que já morou no Japão e em diversos países europeus – lugares onde a bicicleta possui um espaço muito maior nas ruas, diz que é preciso mudanças. “Vivi em muitas cidades em que as pessoas usam diariamente a bicicleta para ir ao trabalho, à escola e para lazer. Essa é uma tendência, principalmente nas grandes metrópoles européias. Curitiba não pode ficar para trás”, afirma o vereador.